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Crítica | The Killers: “Pressure Machine”

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Em 2006, quando os integrantes do The Killers deram vida ao segundo álbum de estúdio da banda, Sam’s Town, havia um sentimento de exaltação ao estilo de vida norte-americano, mesmo que consumido pela decadência dos personagens e histórias narradas por Brandon Flowers. E isso se reflete principalmente na construção dos arranjos e estruturas sempre grandiosas de cada composição, como se o grupo, completo pelos músicos Dave Keuning, Ronnie Vannucci Jr. e Mark Stoermer, transportasse para dentro de estúdio uma atmosfera típica dos casinos, paisagens iluminadas e excessos da cidade de Los Angeles, onde o quarteto havia se formado anos antes.

Interessante perceber em Pressure Machine (2021, Island), sétimo e mais recente trabalho de estúdio da banda, um material que trilha o caminho oposto a esse resultado. Entregue ao público pouco menos de um ano após o lançamento de Imploding the Mirage (2020), registro que deu novo gás ao grupo de Nevada, o disco produzido durante o período de pandemia estabelece em memórias da infância e vivências de Flowers no município de Nephi, no interior Utah, a base para grande parte das composições. São fragmentos instrumentais e poéticos marcados pela completa melancolia dos temas, narrativas e personagens que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra.

E isso se reflete com naturalidade logo nos primeiros minutos do trabalho, em West Hills. Inaugurada em meio a depoimentos de pessoas que discutem a ausência de perspectiva de vida e a forte relação com a cidade onde nasceram, a faixa consumida pela ambientação densa sintetiza parte das experiências e temas incorporados ao longo da obra. “Eu nasci bem aqui, em Sião, o próprio filho de Deus / Suas histórias sobre o Espírito Santo e derramamentos de sangue nunca me assustaram“, anuncia Flowers enquanto passeia em meio a cenas descritivas, versos que discutem a crise dos opioides nos Estados Unidos, conceituações bíblicas e momentos de maior vulnerabilidade.

Mesmo a base instrumental do disco, concebida a partir de métodos analógicos de gravação, arranjos acústicos e captações ruidosas, contribui para essa atmosfera soturna explícita na construção dos versos. Exemplo disso acontece em Runaway Horses, bem-sucedido encontro com a cantora e compositora Phoebe Bridgers. É como se a banda, sempre interessada em revisitar o passado, replicasse temas e conceitos bastante característicos do cultuado Nebraska (1982), um dos grandes registros da carreira de Bruce Springsteen. A própria imagem do trabalho, com uma fotografia em preto e branco aplicada em um fundo minimalista, evidencia ainda mais essa relação.

Nesse sentido, Pressure Machine talvez funcionasse melhor como um trabalho de Flowers em carreira solo do que necessariamente um disco do The Killers. Há um desequilíbrio enorme na montagem do repertório que se divide entre composições essencialmente reducionistas e tocantes, como Terrible Thing, um dos grandes acertos da obra, e músicas que parecem pensadas para atender uma demanda do público durante as apresentações ao vivo, marca de In The Car Outside e Sleepwalker. Mesmo o bloco final do registro, onde residem preciosidades como a faixa-título, parece substancialmente abafado e prejudicado frente aos pequenos excessos que definem a porção inicial do álbum.

Embora consumido por momentos de maior instabilidade, Pressure Machine, assim como o registro que o antecede, reflete o esforço do quarteto em se reinventar, provar de novas possibilidades e estreitar a relação com diferentes colaboradores em estúdio. Além de Bridgers, na já citada Runaway Horses, Jonathan Rado (Father John Misty, Whitney), parceiro desde o disco anterior, desempenha um papel de maior destaque ao longo da obra, assumindo parte expressiva dos instrumentos e produção da faixas junto de Shawn Everett (Kacey Musgraves, Alabama Shakes). O resultado desse processo criativo está na entrega de um repertório que preserva a essência do grupo norte-americano, porém, se permite provar de novas direções e conceitos pontualmente marcados pelo frescor.  

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